Como o tomate tipo grape conquistou os lares brasileiros, e o que isso revela sobre o futuro da nossa alimentação

Eduardo Cavalcanti Cunha

*Por João Henrique Kozlik Schumaikel

Nos últimos 15 anos, acompanhei de perto uma mudança significativa no comportamento do consumidor brasileiro quando o assunto é hortaliça. E poucas culturas traduzem tão bem essa transformação quanto o tomate tipo grape. O que antes era uma variedade desconhecida para a maioria das famílias hoje está presente em feiras, supermercados e, principalmente, na lancheira das crianças.

Esse crescimento não é por acaso — ele é resultado direto da evolução genética, da melhoria dos processos de cultivo e, acima de tudo, de um alinhamento cada vez maior entre o que o produtor entrega e o que o consumidor deseja. E eu digo isso com base em mais de 25 anos de atuação no setor, atendendo produtores em todos os estados do Brasil e com conexão comercial com mais de 15 países.

A demanda pelo tomate tipo grape cresceu exponencialmente no Brasil na última década. 

Mas por que esse tipo de tomate caiu no gosto dos brasileiros?

Do ponto de vista técnico, o grape apresenta características superiores em produtividade, resistência a doenças e uniformidade de colheita. Mas do ponto de vista do consumidor, o diferencial é sensorial: o fruto é doce, tem textura firme, casca fina e formato atrativo. É fácil de higienizar, vem em embalagens práticas e pode ser consumido como snack, o que agrada especialmente às famílias com crianças pequenas.

Tenho escutado muitos relatos de pais e mães que contam que os filhos antes recusavam qualquer tipo de tomate, mas agora pedem o grape no mercado. A explicação está no sabor: o nível de açúcar (°Brix) dessa variedade é mais alto, o que proporciona uma experiência semelhante à de uma fruta. E, para uma criança, isso faz toda a diferença. O tomate grape virou porta de entrada para uma alimentação mais saudável.

Outro ponto importante é que essa variedade democratizou o acesso à inovação genética no campo. Quando comecei minha empresa em 2007, importar sementes de tomates especiais era um processo custoso e limitado. Hoje, graças à colaboração com fornecedores de diferentes países e ao esforço de adaptação ao nosso clima, conseguimos entregar cultivares mais resistentes, produtivas e com sabor superior para pequenos e médios produtores brasileiros.

Essa evolução beneficia toda a cadeia: o produtor consegue melhor rentabilidade com menos perdas e o consumidor recebe um produto mais fresco, bonito e saboroso na gôndola.

Acredito que o sucesso do tomate tipo grape no Brasil aponta para um caminho que devemos seguir: aproximar tecnologia, nutrição e prazer alimentar. Se conseguimos fazer uma criança comer tomate com gosto, podemos fazer o mesmo com outras hortaliças. E o que guia essa transformação é a genética aplicada com inteligência e propósito.

Mais do que vender sementes, meu trabalho é contribuir para um mercado que valorize alimentos saudáveis, acessíveis e sustentáveis. O grape nos mostrou que é possível. Agora, é hora de expandir essa lógica para outras culturas — no Brasil e, em breve, também nos Estados Unidos.

*João Henrique Kozlik Schumaikel soma 27 anos de experiência no agronegócio e está à frente de uma empresa brasileira que atua no comércio de sementes e insumos agrícolas. Com atuação consolidada em quase todos os estados e relações comerciais com fornecedores de 15 países, o empresário agora projeta uma expansão estruturada para os Estados Unidos, de olho no crescimento da demanda por alimentos com valor nutricional diferenciado.

Subscribe

Subscribe to our newsletter to get our newest articles instantly!

[mc4wp_form]

Share this Article