*Marcela Marins Sacramento de Castro
Durante muito tempo, o diploma de Direito representou status, estabilidade e prestígio social. Ser advogado era sinônimo de segurança profissional e realização pessoal. Mas essa realidade mudou. O mercado jurídico brasileiro, que hoje conta com mais de 1,3 milhão de profissionais ativos, segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tornou-se saturado e competitivo, exigindo uma nova postura dos profissionais que desejam se destacar. E é nesse cenário que o empreendedorismo jurídico começa a se consolidar como um movimento de reinvenção da carreira.
Tenho visto cada vez mais advogados optando por empreender. Muitos não se identificam mais com o modelo tradicional de escritório, com longas horas de trabalho e pouca liberdade criativa. Buscam autonomia, propósito e a possibilidade de transformar conhecimento jurídico em soluções reais. Esse novo perfil deixa de ser apenas operador do Direito para se tornar criador de oportunidades. É o profissional que oferece cursos online, desenvolve legaltechs, cria produtos digitais, presta consultoria estratégica ou, em alguns casos, expande sua atuação para áreas fora da advocacia.

A primeira explicação para esse movimento é prática. A oferta de profissionais cresce em ritmo muito maior do que a demanda. O número de faculdades de Direito no Brasil já ultrapassa a soma de todos os outros países do mundo. O resultado é um mercado mais competitivo e menos rentável, onde jovens advogados enfrentam desafios para consolidar suas carreiras e alcançar retorno financeiro compatível com os anos de estudo e especialização.
Mas há também uma razão mais profunda. Empreender é um ato de liberdade. Significa deixar de atuar apenas de forma reativa, esperando demandas, para assumir o papel de protagonista. É quando o advogado passa a construir seus próprios projetos, desenhar sua identidade profissional e criar um modelo de trabalho que esteja alinhado aos seus valores e objetivos. Essa transição exige coragem, mas também estratégia e conhecimento de mercado.

A tecnologia, nesse contexto, se tornou o principal motor da transformação. Ferramentas de automação, inteligência artificial e plataformas de conexão entre advogados e clientes estão mudando a forma de trabalhar e de se relacionar com o público. Hoje é possível atender remotamente, otimizar processos e oferecer serviços personalizados a partir de soluções digitais. Isso amplia o alcance e reduz barreiras de entrada para quem deseja empreender.
Empreender, no entanto, não é abandonar a advocacia. É ampliá-la. Os profissionais que unem visão jurídica com mentalidade empreendedora têm se destacado em diversas frentes. São fundadores de startups que facilitam o acesso à justiça, criadores de plataformas educacionais, gestores de escritórios com modelo de negócios inovador e produtores de conteúdo que democratizam o conhecimento jurídico. Todos eles representam uma nova fase da advocacia, mais colaborativa, acessível e conectada.
O futuro do Direito, acredito, passa por essa convergência entre técnica e visão de negócio. O advogado que compreender marketing, gestão, comportamento do consumidor e tecnologia terá vantagem competitiva. Mais do que conhecer as leis, será preciso entender pessoas, processos e estratégias. A advocacia não está perdendo espaço, está se reinventando. E esse movimento não é uma ruptura, é uma evolução natural.
A nova geração de advogados não quer apenas vencer causas, quer criar impacto. E é essa mentalidade que marca o início da era do empreendedorismo jurídico: um Direito que inova, dialoga com o mercado e entende que liberdade e propósito também fazem parte da justiça.
Sobre Marcela Marins Sacramento de Castro
Marcela Marins Sacramento de Castro é advogada com mais de 15 anos de experiência, especializada em Direito Internacional pela PUC Minas. Membro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da American Bar Association (ABA) e da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), atua em consultoria e mediação internacional, com foco em relações jurídicas entre empresas e instituições de diferentes países.
É coautora da obra Internazionale Juris Academy e do livro Direito Internacional Contemporâneo e Temas Controversos, ambos voltados ao estudo de tratados, migração e cooperação jurídica internacional. Integra desde 2022 a Comunidade Internazionale de Direito Internacional, grupo que reúne profissionais de 12 países e é referência em estudos e debates sobre Direito Internacional Público e Privado.
Reconhecida pela contribuição à advocacia internacional, foi homenageada com o Prêmio Quality Justice 2025 e o Top Quality Brazil 2024, distinções concedidas a profissionais de destaque pela qualidade e credibilidade de sua atuação.